DAGMAR RAMALHO
( Brasil - Roraima )
Escritora e poeta [poetisa] de Roraima.
Dagmar Ramalho Antunes e as suas filhas Morena, Camila e Cristal pelo falecimento de seu esposo Dório Antunes de Souza, ocorrido em 06 de novembro de 2008.
PINHEIRO, Aroldo, organizador. Retalhos II. Boa Vista, Roraima: Maxter, 2008. 175 p. ilustrado. No. 10 837
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda
Tia Elvira
Tempos da pílula da vida,
O Norte todos esturricado,
Lá vem Deus com suas dádivas
Presenteando o lavrado
Com uma cunhantã guerreira
Para a tribo “Povo Honrado”
Tempos do carro de boi,
Tucunaré no moquém.
Nas fraldas pra neném.
Jóia rara da coragem
Quais pedras do Tepequém.
Fevereiro das queimadas,
Fazendas, tempo da ferra,
Lá aonde vai a campina
Se encontrar com o verde-serra
Nasce Elvira — charme e força
Honrosa, cheiro da terra.
Cueiros de chita branca,
Lacinhos de enfeites, mil.
É assim que nasce a honra
Fibra Norte do Brasil
Das tribos Taurepangue
Pra varar anos, dois mil.
Carros de boi se carroças;
Paçoca, mingau, chibé;
Parteiras e pião roxo;
Rezadeiras e Pajé;
Era um projeto Divino:
Construir brava mulher.
Lá vais tempo e vem tempo.
Armstrong chutou a lua.
Acabam-se os atoleiros,
Asfalto que pinta a rua.
Dom Alquino catequiza:
Cunhantã não anda nua.
E então vem a anestesia,
Dr. Câncio e Elesbão;
Arigó chega de ruma,
Trator, serrote, injeção.
Na leva chega Alvino
Pra botar animação.
Só diárias pra cegonha
Do Wellington ao Dadau
Seu Alvino pagou tantas,
E o resguardo era fatal:
Canja de frango pedrez
E as pirocas no quintal.
E haja curumim feio
Pra aprender ser tratorista.
As cunhantãs de Elvira
Colírios pra nossa vista;
Era um parto atrás do outros:
O PIB de Boa Vista.
Zé Maria governou.
Ramos Pereira, Dalcim.
!Reforma a Maternidade
Que Alvino faz curumim!”
Haja, contratar parteiras.
Cuecas? Um monte assim.
E, hoje, Elvira ganha
Presentes da filharada.
Deus que é seu protetor
Deu-lhe noite enluarada
Por ter cumprido com amor
E coragem a jornada.
Está aí. Braços fortes
Que tanto arrumou menino;
Mão que pilão e enxada
Calejou o couro fino,
Na honradez da família
E na companhia de Alvino.
“Deus tá vendo”, o Vavá disse
E eu creio piamente
Que vem oitenta e vem cem
Para alegria da gente.
Bisnetos terão os netos
E Elvira estará presente.
Alvino já não dirige
— Cresceu demais a cidade”,
Deu licença para a cegonha,
Mas não perdeu a vontade.
Passou o bastão pro Ernani
Visitar a Maternidade.
(Homenagem a Elvira Rocha Lima
pelo seu aniversário em 2007.)
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Página publicada em julho de 2025. |